O que importa e o custo da atenção.
Ficar pensando em termos abstratos não adianta. O tempo é curto demais pra tolerar ruído. No fim, importa aquilo que compõe, o que constrói alavancagem, aquilo que não evapora no fim do dia.
A vida tem um conjunto restrito de variáveis realmente críticas, invariantes, claras - tempo, cognição, capacidade física, capital social e integridade ética. Dessas, o tempo é impiedosamente não renovável. Todo dia começa com 16 horas de atenção limpa e acaba em zero; a pergunta então é simples: pra onde está indo meu foco ?
Se eu parar pra realmente olhar onde meu tempo está indo, fica claro o absurdo: horas e semanas inteiras jogadas fora com loops vazios. Instagram Reels, Shorts; dopamina de baixa qualidade que evapora em segundos. Se alguém me perguntasse diretamente por que dedico tanto tempo a vídeos inúteis, eu não conseguiria dar uma resposta aceitável nem pra mim mesmo. Isso me incomoda profundamente, porque revela o quanto tenho desperdiçado do recurso mais valioso que possuo.
Por outro lado, os projetos reais são diferentes. Agentes de IA, desenvolvimento de sistemas, mentorias, treinamento para endurance, treinamento de força - todos eles têm uma característica em comum: retornos compostos de dopamina. Neles, cada acerto hoje não se perde amanhã; cada incremento vira uma nova base. O trabalho é cumulativo, o esforço é cumulativo, a dopamina não apenas recompensa - ela constrói e constrói algo que importa.
O que importa, portanto, é aquilo que gera loops compostos. E loops compostos são sempre loops com profundidade. Eles precisam de blocos de tempo protegidos, longos, focados. Não fragmentados. Redes sociais, notificações, reels, isso tudo é ruído criado por alguém para capturar minha atenção. Quem controla minha atenção, controla meus resultados - o que faz desses ruídos agentes ativos que trabalham contra meus próprios objetivos.
Cortar ruído não é uma questão de força de vontade; é engenharia de sistemas. Criar fricção, desinstalar apps, remover a decisão do momento crítico - isso funciona porque é um hack estrutural contra algo que foi otimizado pra me vencer. Não é mais racional tentar ganhar deles diretamente. A racionalidade está em nunca entrar na arena.
Mas se limpar ruído é essencial, ele ainda é só metade da equação. Não basta evitar o que não compõe; eu preciso ativamente alimentar as alavancas certas. Preciso cuidar dos loops positivos - treino gera cognição e foco, que gera código melhor, que gera motivação para treinar ainda mais forte. Deep work gera projetos reais, que aumentam minha reputação, que abre portas pra problemas maiores ainda, problemas dignos da minha vida limitada.
Existe um teste brutal que gosto: a lente dos 70 anos. Se eu estiver lá na frente olhando pra trás, que coisas eu pagaria pra viver de novo? Eu não pagaria pra rever vídeos inúteis ou scrollar infinitamente por memes. Mas pagaria caro pra viver de novo a sensação de fazer algo que importa, de empurrar o limite do que eu sou capaz. Essa é a métrica final.
Integridade importa também, porque é assimétrica. Leva décadas pra construir, e pode evaporar numa ação errada. Ser ético não é só moralidade barata - é antifrágil. Ser ético é proteger os retornos compostos de confiança e reputação. Não é uma escolha, é um requisito.
Relações importam porque elas também se acumulam. Confiar e ser confiado, colaborar com quem respeita minha capacidade e meu histórico. Nenhuma tarefa trivial, nenhuma validação barata vale mais que uma rede sólida de pessoas que me levam ao próximo nível. Mas é justamente nos detalhes quase invisíveis - uma viagem sem pressa, uma conversa despretensiosa, um momento simples compartilhado - que esses vínculos se forjam de verdade. Essas relações são investimentos lentos e silenciosos, com juros compostos absurdamente altos; são elas que fazem toda a trajetória valer a pena quando olho pra trás.
No fim, o que importa não é complicado. É até simples. A dificuldade não é conceitual, é operacional. A questão não é saber, é lembrar no momento da distração, ou evitar que a distração seja possível. É construir sistemas pra não precisar lembrar, sistemas que tornam a coisa certa inevitável.
Hoje, nesse exato momento, eu tenho atenção limitada. Uma parte vai pra treino, outra pra deep work, outra para pessoas que valem a pena. Nenhuma parte pode ir pra onde não há retorno composto. Nenhuma pode ser perdida no ruído.
Porque no fundo, o que importa é só aquilo que sobrevive ao teste do tempo. O que fica. O resto é vapor, entretenimento, ilusão.
Eu não tenho tempo pra ilusões.